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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De volta ao ministério

Foi Palocci quem ajudou a escrever a Carta ao Povo Brasileiro, publicada em junho de 2002




O envolvimento com a política começou cedo na vida de Antonio Palocci, ainda no movimento estudantil, onde as teorias políticas fervilhavam em um período marcado pela ditadura militar. Desde essa época, escreveu uma bem-sucedida carreira política, marcada pela ascensão em cargos públicos e a aprovação nas urnas.

Nascido em Ribeirão Preto, no dia 4 de outubro de 1960, tomou gosto pela política no período estudantil quando frequentava a Faculdade de Medicina da USP, tornou-se presidente do Centro Acadêmico Rocha Lima, liderando as reivindicações dos estudantes. Mesmo atuando em correntes de esquerda, Palocci transitava com tranquilidade em todos os movimentos sociais. Aberto ao diálogo, expressava as ideias de maneira diplomática e respeitava as opiniões de quem o cercava.

Em 1980, ainda na Faculdade de Medicina, participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) entidade sindical que nasceu sob a influência do PT. Já nessa, época Palocci conheceu Lula, Eduardo Suplicy e as principais lideranças do PT. Depois de se formar como médico com especialização em Medicina Sanitária, trabalhou por cinco anos como servidor da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Criou o Ambulatório de Saúde do Trabalhador e chefiou a diretoria regional da Vigilância Sanitária. Porém, a dedicação a sua profissão não fez com que abandonasse a sua verdadeira vocação.

Foi co-fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), em Ribeirão Preto e atuou, em 1997 e 1998, como presidente do Partido no Estado de São Paulo. Seu primeiro cargo público foi o de vereador, eleito com 3.482 votos, exercido de 1989 a 1990. Em pouco tempo, virou uma referência para o PT regional. A partir daí, sua carreira política foi marcada por uma evolução constante com resultados favoráveis nas urnas.

Em 1990, ganhou a disputa para deputado estadual em São Paulo com aproximadamente 25 mil votos, cargo que ocupou por dois anos. Em 1992, apoiado por uma ampla coligação de partidos, venceu as eleições à Prefeitura de Ribeirão Preto, quebrando um ciclo de 30 anos de governos conservadores. Eleito com uma votação expressiva, 112.359 votos, deixou o mandato na Assembleia Legislativa para administrar o município de 1993 a 1996.

A restauração do Pedro II

Seu governo foi marcado por uma aliança de forças políticas que não se restringiam ao PT. O PSDB e representantes da sociedade civil tiveram participação em sua administração. Inovou na administração pública realizando mais de 100 parcerias com o apoio da iniciativa privada. Sua maior obra nesse período foi a restauração do Theatro Pedro II que estava abandonado há 16 anos. A reabertura do Theatro devolveu a cidade o seu mais importante espaço cultural. Sua ousadia política e administrativa ganhou repercussão nacional com a venda das ações da Ceterp e a abertura do capital da empresa no final de 1996. Muito antes do governo federal privatizar o sistema de comunicações, Palocci colocou a venda 49% das ações da empresa.

Dois anos depois de deixar a Prefeitura de Ribeirão Preto com a popularidade em alta, em 1998, Palocci se elegeu deputado federal pelo Estado de São Paulo com 125.462 votos, sendo o 16º mais votado no Estado. No currículo, ainda constam outros cargos representativos. Foi 2º vice-presidente da Comissão de Reforma Tributária; titular da Comissão de Seguridade Social e Família e suplente das comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática e da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização.

Durante todo esse tempo, trabalhou pelas reformas de interesse nacional. Seu trabalho foi reconhecido por entidades que lhe concederam importantes premiações, como o Prêmio Juscelino Kubitschek, pelo apoio às pequenas e às micro empresas,  e o Prêmio Criança e Paz, pela atuação em favor da infância. Sua habilidade política, o temperamento equilibrado e o espírito de liderança chamaram a atenção dos dirigentes nacionais do PT.

Nas eleições municipais de 2000, recebeu muitas manifestações da população que pedia o seu retorno. Mais uma vez, obteve uma eleição consagradora, ainda no primeiro turno, com cerca de 150 mil votos (56%). Em apenas dois anos do segundo mandato, realizou obras importantes como a inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto que permitiu que Ribeirão Preto fosse a primeira grande cidade do país a tratar 100% do esgoto coletado. Também realizou duas edições da Feira do Livro e melhorou o transporte coletivo com a implantação do sistema “Leva e Traz”.

Com a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, assumiu a coordenação da campanha política de Lula para a presidência da República, em 2002, e em seguida, foi nomeado coordenador da equipe de transição entre os governos de Fernando Henrique Cardoso e o de Lula. Nessa fase, coletou informações e traçou um diagnóstico da situação real do país, reconhecendo os pontos fortes para aprimorar e os fracos para implementar as reformas. O nome de Palocci para o Ministério da Fazenda foi a primeira nomeação feita por Lula.

Respaldo do empresariado

À época, o cenário era de desconfiança em torno da posse do novo presidente e seus planos para comandar a nação. O país passava por uma grave crise econômica que afetava tanto a população, que convivia com altas taxas de juros e as dificuldades de crédito que impossibilitavam seu poder de compra, quanto para o governo, que amargava um alto déficit na conta corrente. Entretanto, a presença de Palocci acalmou os ânimos do mercado, o novo ministro tinha conquistado a confiança das principais lideranças do empresariado. Foi Palocci quem ajudou a escrever a Carta ao Povo Brasileiro, publicada em junho de 2002. Os compromissos foram sendo cumpridos a médio e longo prazo durante o mandato. O documento não trazia nenhuma fórmula mirabolante ou milagrosa. A receita para superar os tempos difíceis era baseada em planejamento, disciplina e perseverança.

Através da contenção da escalada inflacionária e da expansão da dívida pública, já em 2004, o Brasil deu os primeiros sinais de recuperação. O crescimento registrado foi de 5,2%, maior índice verificado até então desde 1994. A indústria também cresceu 8,3%, e fez com que a economia aumentasse a oferta de empregos. Ações colocadas em prática nesse período se tornaram referência em gestão financeira, como o crédito consignado em folha de pagamento e os investimentos sociais, como o programa “Bolsa Família”, que em 2004 aplicou mais de R$ 5 bilhões, o dobro aplicado em programas de transferência de renda no início do governo.

Seu desempenho à frente do Ministério da Fazenda apresentava indicadores econômicos positivos até que ocorreu o episódio de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e a divulgação indevida dessas informações. Essa denuncia culminou com a sua saída do governo. O ex-assessor de imprensa do Ministério da Fazenda, Marcelo Netto, teria vazado as informações à imprensa, segundo relatório da Polícia Federal enviado ao Ministério Público Federal. A violação ocorreu dois dias após o jornal O Estado de S. Paulo publicar entrevista com o caseiro, na qual Francenildo relatou que Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto, frequentava reuniões com lobistas em uma casa em Brasília. Em agosto de 2009, Palocci foi absolvido da acusação. Cinco dos nove ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram não receber a denúncia apresentada pelo Ministério Público. O relator do processo foi o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o ex-ministro foi absolvido no processo.

Esse episódio não abalou sua popularidade. Em 2006, elegeu-se novamente deputado federal. Entre os muitos assuntos que constavam na pauta diária do deputado, estavam presentes melhorias para Ribeirão Preto. Prova disso foi a atenção e o empenho de Palocci na obtenção de verbas para viabilizar as obras antienchentes. Foram liberados R$ 52 milhões para acabar com esse problema que há 80 anos prejudicava os moradores da cidade. Palocci intermediou recursos para a Feira Nacional do Livro e para outros projetos sociais da cidade.

Mais uma vez, a experiência, a maturidade política e a capacidade de conciliar interesses divergentes fez com que Palocci fosse chamado para coordenar a campanha da petista Dilma Rousseff à presidência. O trabalho intenso nos bastidores fez a história se repetir. Com a vitória da candidata, assumiu a responsabilidade de cuidar da transição, que foi iniciada no dia 8 de novembro deste ano. As principais funções da equipe de transição foram avaliar as atuais políticas dos ministérios para garantir a continuidade das ações ou as correções necessárias, traçar as medidas prioritárias para os primeiros quatro meses do governo Dilma e criar uma via de comunicação positiva do governo com os demais setores da sociedade.

A partir do dia 1º de janeiro de 2011, Palocci mais uma vez será ministro. Agora, da Casa Civil, órgão fundamental da Presidência da República já que assessora diretamente e imediatamente a presidenta eleita nas suas atribuições, em especial nos assuntos relacionados com a coordenação e na integração das ações do Governo. Atendendo às expectativas dos partidos e da imprensa, o convite foi feito pela presidente eleita, que comandou a pasta de junho de 2005 a março deste ano. Entre suas várias atividades, Palocci atuará de forma conjunta com a Secretaria das Relações Institucionais na articulação política e cuidará da interlocução com governadores e prefeitos, além da reformas que interessam ao país.

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